Resumo

Título do Artigo

Afinal, somos éticos nas pesquisas qualitativas no Twitter? Uma reflexão sobre o consentimento informado à luz da ética da alteridade de Emmanuel Levinas
Abrir Arquivo
Assistir a sessão completa

Palavras Chave

Ética da Alteridade
Emmanuel Levinas
Twitter

Área

Ensino e Pesquisa em Administração

Tema

Formação do Professor e Pesquisador

Autores

Nome
1 - Francisco Ricardo Fonseca
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Centro acadêmico do agreste

Reumo

O consentimento informado é um dos princípios éticos imprescindíveis na condução de pesquisas sociais qualitativas online. Nas plataformas de mídia social — i.e., PMS, esse princípio merece uma atenção especial, por parte dos pesquisadores, devido a suposta caracterização da esfera pública de seus espaços privados, a disponibilidade pública e ao acesso livre de parte das postagens de seus usuários. As idiossincrasias inerentes às PMS exigem a aplicação parcimoniosa de tal princípio com o intuito de assegurar um comprometimento ético dos estudiosos em suas pesquisas nas redes sociais.
A literatura relevante sobre o assunto evidencia que os acadêmicos tendem a cumprir e respeitar formalmente a aplicação do consentimento informado em seus estudos nas PMS. Como sugiro aqui, isso ocorre quando eles adotam uma postura normativa ou legalista, seja na coleta, tratamento ou publicação do conteúdo das postagens dos usuários das mídias sociais. Por ora, como argumento aqui, basta dizer que a satisfação das posturas normativa e legalista não garante as condições suficientes para o estabelecimento de uma relação ética do pesquisador com os usuários das PMS e suas postagens.
No ímpeto de justificar meu argumento neste ensaio teórico, aproprio-me da ética da alteridade de Emanuel Levinas para demonstrar como essas posturas, comumente, praticadas pelo pesquisador social podem infringir sua responsabilidade ética particularmente, quanto ao princípio supramencionado, nas pesquisas, de cunho qualitativo, realizadas nas PMS. À luz da ética Leviniana, apresento uma reflexão crítica sobre como essas posturas denotam uma ausência de compromisso ético dos pesquisadores com os usuários da plataforma do Twitter.
Essas posturas dos pesquisadores tendem a tematizar e totalizar o Outro, reduzindo-o a um mero fenômeno, . Na perspectiva da visão ética de Levinas, os pesquisadores não respeitam à alteridade do Outro. Devido a natureza pública dessa rede social, eles pesquisador não reconhecem o encontro face-a-face com os usuários, tampouco suas responsabilidade com o Outro. Os pesquisadores devem compreender a natureza dos dados que estão sendo coletados e as idiossincrasias da plataforma do Twitter caso desejam demonstrar respeito pelo Outro e, assim, construir uma relação ética com os usuários dessa PMS
A ética da alteridade de Levinas pode auxiliar os cientistas sociais a refletirem suas posturas éticas nas práticas de pesquisa qualitativa online nas redes sociais. Sob a égide da abordagem Levinasiana, as três posturas do pesquisador, quando aplicadas para obtenção do consentimento informado, tendem a impossibilitar o estabelecimento de uma relação ética com os usuários do Twitter. A adoção dessa abordagem torna o pesquisador atendo à alteridade e ao infinito dos usuários do Twitter. Isso os direciona a um estado de alerta permanente de responsabilidade com o Outro.
LEVINAS, E. Totality and Infinity: An Essay on Exteriority. Pittsburgh: Duquesne University Press, 1969. SLOAN, L. et al. Linking Survey and Twitter Data: Informed Consent, Disclosure, Security, and Archiving. Journal of Empirical Research on Human Research Ethics, v. 15, n. 1-2, p. 63-76, 2020. WILLIAMS, M. L.; BURNAP, P.; SLOAN, L. Towards an Ethical Framework for Publishing Twitter Data in Social Research: Taking into Account Users’ Views, Online Context and Algorithmic Estimation. Sociology, v. 51, n. 6, p. 1149-1168, maio. 2017.