Resumo

A Gestão de Resíduos Sólidos (GRS) se destaca na última década como um sério desafio em todo o mundo. Nesse sentido, a reciclagem é apontada como um dos processos mais eficazes para minimizar os impactos dos resíduos sólidos gerados, cuja atividade vem a compor um dos setores mais competitivos da economia global moderna. No contexto do Brasil, essa cadeia produtiva envolve deste o processo de descarte de materiais pós-consumo até o desenvolvimento de um novo produto, sendo tal cadeia composta por catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, sucatas e indústrias recicladora.

É frequente na literatura acadêmica a análise do fluxo genérico desta cadeia, bem como da atuação em rede de catadores de materiais recicláveis utilizando a perspectiva da Análise de Redes Sociais (ARS). Porém, aportam-se ainda algumas inquietações quanto à compreensão das interações dos diversos grupos de atores envolvidos — catadores, sucateiros e indústrias recicladoras— e, principalmente, a interação entre catadores. Face ao exposto, esta pesquisa tem como objetivo analisar a dinâmica das relações entre os catadores da Associação de Catadores de Material Reciclável de Sousa (ASCAMARES).

Em termos de fundamentação teórica, focou-se na apresentação dos aspectos fundamentais da cadeia produtiva da reciclagem, como a legislação vigente e seus diversos tipos de atores (AQUINO; CASTILHO JR.; PIRES, 2009; LIMA; BARBOSA, 2017), assim como na apresentação de estudos anteriores acerca deste tema (DIAS; LANGE; MAGALHÃES, 2022; GUTBERLET, 2015; MIRANDA ET AL., 2020; SAUERESSIG; SELLITTO; KADEL, 2021).

Optou-se pela utilização da Análise de Redes Sociais. Como critério de inclusão, participaram apenas os catadores associados à ASCAMARES e que têm a catação como atividade principal. O formulário foi constituído de perguntas objetivas e subjetivas, baseado na literatura específica sobre redes sociais, permitindo que os respondentes quantifiquem as interações entre os atores envolvidos. Quanto aos dados relativos à rede de relações, estes foram analisados a partir dos indicadores de rede (centralidade, densidade, intermediação e proximidade).

A pesquisa foi realizada com 33 catadores da ASCAMARES, cuja maioria iniciou as atividades de catação nos antigos lixões existentes em Sousa e, após a desativação do último, em 2014, começaram a catação nas ruas e espaços periféricos que residem. Na identificação da dinâmica da relação entre catadores, sabe-se que a catação, às vezes, ocorre de forma solidária e, vez por outra, cruzam-se nas ruas, assim como nos encontros e nas assembleias. Percebeu-se, contudo, que a rede é fracamente conectada, com desvio alto de conectividade (rede pulverizada e com aparente desorganização).

Fatores como a pandemia da covid-19, a própria desmotivação do catador, falta de incentivo e apoio governamental, pressão social, valor injusto no preço do material e falta de pagamento pelo trabalho do catador e não apenas pelos materiais, tanto por parte das sucatas quanto das indústrias, podem contribuir cada vez mais com o desinteresse dos catadores, a sua desunião e, consequentemente, com o enfraquecimento ou até mesmo a extinção da rede, tornando-os menos influentes na cadeia produtiva de reciclagem.

AQUINO, I. F.; CASTILHO JR, A. B.; PIRES, T. S. L. A organização em rede de catadores de materiais recicláveis na cadeia produtiva reversa de pós consumo da região da grande Florianópolis: uma alternativa de agregação de valor. Gest. Prod., v. 16, n.1, p. 15-24, 2009. DIAS, A. L. S.; LANGE, L. C.; MAGALHÃES, A. S. Application of a ‘Recycling Exchange’ instrument to compensate waste pickers in Brazil via a first payment for urban environmental services programme. Waste Management and Research, v. 40, n. 7, p. 892-904, 2022.