Resumo

Título do Artigo

UNDER PRESSURE: os afetos e as emoções nas práticas dos estudantes da pós-graduação em Administração
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Palavras Chave

Práticas sociais
Afetos
Pós-graduação

Área

Ensino e Pesquisa em Administração

Tema

Formação do Professor e Pesquisador

Autores

Nome
1 - Polyanna Torres Pinheiro
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - PPGA
2 - Marcelo de Souza Bispo
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - Departamento de Administração

Reumo

Um intenso e mediatizado debate a respeito da saúde mental dos estudantes de pós-graduação tem acontecido sob uma perspectiva científica, apontando para uma possível crise de saúde mental nesse espaço (Evans et al., 2018). Grande parte dos estudos em evidência trata dos aspectos do ambiente da pós-graduação sob a ótica do número de diagnósticos e prevalências de transtornos como ansiedade e depressão entre grupos de discentes, demonstrando uma lacuna sobre os aspectos sociais dessa formação educacional.
Nos estudos da área de Administração, e até na própria academia, os afetos e emoções nas práticas dos estudantes de pós-graduação raramente são discutidos abertamente, sobretudo porque noções de objetividade e racionalidade se sobrepõem à importância dos aspectos emocionais como parte da experiência educacional na pós-graduação. O objetivo geral desta tese foi compreender como os afetos e as emoções se constroem nas práticas da pós-graduação em Administração.
As características do modelo acadêmico da pós-graduação compreendem uma cultura de competitividade a partir de um modelo acadêmico neoliberal (Smith & Ulus, 2019), reproduzindo uma expressão de lógica produtivista que recruta sujeitos de desempenho e de “alta performance” (Moore et al., 2017). Como consequência, episódios de assédios no ambiente acadêmico emergem, promovidos pelas relações hierarquizadas entre docentes e discentes (Maia, 2022). O conhecimento científico é intrinsecamente social, devendo ser estudado e compreendido como um conjunto de práticas sociais historicamente situadas.
Foram realizadas entrevistas on-line do tipo história oral com 32 estudantes de mestrado e doutorado de Administração das regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil no período de novembro a dezembro de 2020. Deste total, selecionamos trechos de 12 entrevistados para ilustrar o argumento desta pesquisa. O material produzido foi interpretado por meio da análise da narrativa onde foi possível interpretar como os estudantes e as práticas estão entrelaçados pelos fluxos das experiências narradas, considerando como estas os afetam emocionalmente (Kumar & Cavallaro, 2017).
Os discentes e as práticas da pós-graduação estão entrelaçados por meio de fluxos de experiências, representados pelas relações afetivas que se desdobram nas narrativas dos estudantes em: Adaptações Iniciais; Pressões, Expectativas Pressões, Expectativas e Competitividade; Xenofobia; Sexismo; Racismo; Maternidade; Questões Pessoais e Financeiras. Isso reforça o argumento da pesquisa, de que os afetos construídos nas relações oriundas das práticas acadêmicas contribuem para consequências emocionais e sociais experienciadas na pós-graduação.
O debate a respeito de saúde mental de estudantes de pós-graduação, mesmo tendo conquistado certa relevância ultimamente, ainda é abordado de forma superficial e abstrata. No entanto, ele não está deslocado das condições materiais e sociais de vida dos estudantes, não devendo se limitar a uma discussão apenas tecnicista. Não por acaso, os índices de ansiedade e depressão são alarmantes entre estudantes de pós-graduação. Patologizar questões emocionais dos estudantes de pós-graduação faz com que desconheçamos os fatores sociais que antecedem a experiência e afetam as práticas dos discentes.
Evans, T., Bira, L., Gastelum, J. et al. (2018). Evidence for a mental health crisis in graduate education. Nat Biotechnol, 36(3), 282-284; Maia, H. (2022). Neoliberalismo e sofrimento psíquico: o mal-estar nas universidades. Ruptura; Moore, S., Neylon, c., Paul Eve, M. et al. (2017). “Excellence R US”: university research and the fetishisation of excellence. Palgrave Commun, 3(1); Smith, C.; Ulus, E. (2019). Who cares for academics? We need to talk about emotional well-being including what we avoid and intellectualize through macro-discourses. Organization, 27(4), 1-18;