Resumo

Na Introdução, a problematização abrange (1) o contexto excepcional advindo da Pandemia de COVID-19 que desencadeou uma crise de saúde pública, (2) a sobrecarga exponencial de trabalho dos profissionais de saúde em meio a esse episódio, (3) a natureza e a importância dos sentidos do trabalho no contexto organizacional e sua relevância em relação a construção da identidade pessoal e profissional dos indivíduos, (4) as especificidades da categoria profissional abordada e (5) as diferenças geracionais.

Diante da situação-problema descrita, o objetivo geral da pesquisa foi analisar como se encontram configurados os sentidos do trabalho de enfermeiros(as), considerando-se as referidas diferenças. Para tanto, (1) identificou-se o perfil sociodemográfico e profissional dos respondentes; (2) verificou-se a validação da escala, para o total dos respondentes e para os grupos observados, em separado; e (3) descreveu-se os indicadores que compõem as dimensões do construto sentidos do trabalho tendo em vista o total de respondentes e de cada grupo.

A fundamentação teórica do artigo partiu de conceitos de sentidos do trabalho, enquanto elemento que reflete a importância atribuída a atividade laboral, fundamental para a construção da identidade pessoal e profissional (Neves et al., 2018) e que ocupa posição central na vida das pessoas quando considerados outros aspectos do seu cotidiano (Rodrigues et al., 2017). Seguiram-se aspectos inerentes à profissão de enfermagem e, na sequência, conceitos referentes às gerações (Oliveira et al., 2012; Milhome & Rowe, 2020).

Pesquisa aprovada por Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 46255521.1.0000.5020, parecer no. 4.710.982), de caráter descritivo-quantitativa. Para coleta de dados, aplicou-se um questionário com questões sociodemográficas e profissionais e com a Escala do Trabalho com Sentido, de Rodrigues et al. (2017). Obteve-se 486 questionários válidos, sendo 141 de enfermeiros(as) Jovens e 345 de enfermeiros(as) Experientes. Os dados foram submetidos a análise fatorial exploratória (estatística multivariada) e, depois, foram calculadas medidas descritivas (estatística univariada).

Os perfis da amostra e das subamostras foram descritos. A análise fatorial exploratória resultou em 3 sentidos para o total da amostra (Segurança; Reconhecimento e Autonomia; Utilidade Social), 3 para os Experientes (Reconhecimento e Autonomia; Retidão Moral; Sentido Geral e Aprendizagem) e 2 para os Jovens (Reconhecimento e Autonomia; Segurança). Após análise das medidas de posição e dispersão de cada sentido identificado, procedeu-se o cálculo dos intervalos de confiança para se apurar o percentual de respondentes por nível de análise, preponderando-se níveis medianos em todos eles.

Observaram-se sentidos do trabalho dos(as) pesquisados(as) concentrados, em alguma instância, no Reconhecimento, ora alinhado à Autonomia, ora à Utilidade Social; por outro lado, diferem no que diz respeito à Segurança, Retidão Moral, Sentido Geral e Aprendizagem, e Utilidade Social. Encontrou-se sentidos diferentes dos 7 usuais da literatura, bem como disparidades entre os grupos das faixas etárias observadas, divergindo em sua composição e reforçando a diversidade geracional no que tange à temática. É possível a Pandemia de COVID-19 possa ter influências sobre esses achados.

Neves, D. R. et al. (2018). Sentido e significado do trabalho: (...). Cadernos EBAPE.BR, 16(2), 318-330. Oliveira, S.R. et al. (2012). Juventudes, gerações e trabalho: (...) Organizações & Sociedade, 19(62), 551-558. Rodrigues, A. L. et al. (2017) Work and its meaning: (...). Revista de Administração Pública, 51(6), 1058-1084. Milhome, J. C., & Rowe, D. E. (2020). Gerações Brasileiras: (...). Anais do XLIV EnANPAD. Online: ANPAD.